As diferentes fases do desenvolvimento infantil passaram despercebidas, por séculos nas sociedades ocidentais, por questões sociais, políticas e culturais.
Pode-se dizer que foi o sentimento cristão que inicialmente despertou a atenção para a infância abandonada. Consta que por volta do século XII um certo bispo, ao caminhar pelas ruas de Roma e testemunhar a pesca de bebês entre a rede de pescadores, determinou a construção do que teria sido um dos primeiros asilos para crianças abandonadas.
No mesmo século, afirma Rizzini (2006), é fabricado um aparelho, em geral de madeira, do formato de um cilindro, com um dos lados vazados, assentado num eixo que produzia um movimento rotativo, colocado em uma das paredes de um abrigo para crianças, identificado por "Roda dos Desvalidos ou Enjeitados".
Buchalla (2007) informa que a "Roda dos Enjeitados" foi criada em Marselha, (França), em 1188. Mas foi apenas da década seguinte que seu uso se popularizou.
No Brasil, a responsabilidade única e exclusiva dos infantes abandonados era a do clero, chegando o país a ter treze Rodas. Na época, foi a solução encontrada para amparar o fruto de um tipo de moral que conduzia as relações familiares da época.
No Brasil, a primeira roda foi criada em Salvador em 1726, trazendo o costume de Portugal. A roda, como em Portugal, era instalada numa instituição religiosa, com a ajuda do Rei, sendo que a partir de 1830 as províncias passaram a ter que subvencionar as casas de assistência a estes expostos. Em Desterro (Florianópolis) a roda foi criada em 1828, sendo as crianças expostas cuidadas primeiramente por famílias da comunidade e depois pela Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos. O mais antigo registro sobre a prática de expor, e sobre a existência de procedimento para assistir a estas crianças, no entanto, data de 1757, de acordo com Oliveira (1990).
Na cidade do Rio de Janeiro, os endereços das Rodas mudavam constantemente, visto que era alto o número de crianças e adolescentes. A incidência de mortes atingia altas taxas, cerca de 50%, chegando até a 90% no Rio de Janeiro, segundo Rizzini (2004).
A Roda dos Expostos só passou a ser combatida com o surgimento do movimento higienista no país, sendo um de seus expoentes o médico Moncorvo Filho, grande combatente das instituições asilares, pois as considerava infratoras dos preceitos científicos e sociais de higiene e como focos de doenças e causadoras de altíssimas taxas de mortalidade infantil.
Outro fator a pesar contra a Roda dos Expostos refere-se à questão da higiene moral, pois as Rodas serviam para acobertar os pecados sexuais que acabavam por gerar filhos bastardos.
Maria Inês F. Ardigó
Autora do livro: Estatuto da Criança e do Adolescente: Direitos e Deveres.
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Bibliografia:
BUCHALLA, Ana Paula. Revista Veja. São Paulo: Abril. Março de 2007.
OLIVEIRA, Henrique Luiz Pereira. Os filhos da falha. Assistência aos expostos e remodelação das condutas em Desterro (1828-1887). Dissertação de Mestrado História, São Paulo, PUC, 1990.RIZZINI, Ireni. A Institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003-2004.
RIZZINI, Ireni; et. al. Acolhendo crianças e adolescentes: experiências de promoção do direito à convivência familiar e comunitária no Brasil. São Paulo: Cortez; Brasília: DF: UNICEF; Rio de Janeiro: PUC Rio, 2006.
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